Distorcidos

Olhando seu retrato não consigo mais ver seu rosto...

Só uma imagem embaçada como as vidraças das janelas...

Nossa relação se esvai com as estações que se sucedem e

termina como os galhos retorcidos e secos de uma árvore abandonada no inverno...

Eu me pergunto como ficou assim...

Me pergunto pra onde foi o seu sorriso... seu riso...  o brilho no seu olhar...

Me pergunto como ficamos assim...

Aonde estamos agora?

 

Eu apenas ouço seus passos silenciosos e cautelosos  pela casa,

Como se algum perigo estivesse à espreita,

Como se sob o chão houvesse uma bomba prestes a  explodir...

Eu apenas posso ouvir o ritmo do seu coração cansado...

Mas eu também estou cansada...

Cansada demais pra lutar por alguma coisa...

Cansada demais pra brigar...

Cansada demais pra acreditar...

E eu passei muito tempo acreditando que tudo ia se resolver

quando o nosso mundo começou a desabar...

Eu me pergunto como ficou assim...

Me pergunto aonde estamos agora...

Porque não consigo ver pra onde estamos indo...

se estamos indo...

Eu apenas posso ouvir o lamento do seu coração magoado...

E eu apenas não queria estar aqui assistindo passivamente a sua tristeza...

Eu queria saber para onde estamos indo...

queria saber quando foi que ficou assim...

Porque não temos mais forças pra prosseguir... e não conseguimos parar...

E toda dor continua voltando sem nunca ter saído do lugar...

Nossos gestos são meras simulações...

E porque continuamos juntos sem ao menos estarmos lado a lado...

Não... nós não construímos nada além de um abismo...

E agora eu não sei como voltar...

Você quer voltar?

Mas nós não sabemos como ficou assim...

E não sabemos em que direção estamos indo...

E não estamos de mãos dadas...

E o que restou de nós dois, eu não sei...

Porque não temos mais forças pra prosseguir... e não conseguimos parar...